De Principatibus
Acabei de ler o livro “O Príncipe” de Maquiavel (Niccolò Machiavelli). É uma obra antiquíssima (escrita em 1513), porém bem curta (menos de 100 páginas) e MUITO interessante. “O Príncipe” é considerado uma das primeiras obras da filosofia moderna ocidental, especialmente da filosofia política.
Maquiavel foi secretário do governo de Florença (Firenze), e escreveu “O Príncipe” endereçado a Lorenzo de Médici, chefe da família que governava os florentinos. “O Príncipe” era uma análise factual, one Maquiavel se baseava em seu conhecimento sobre os governantes da antiguidade para “dar conselhos” aos governantes italianos. Por volta de 1500 a península itálica via-se invadida, humilhada, separada em pedaços, governada por estrangeiros. Era o desejo de Maquiavel, então, inspirar um “príncipe”, um governante que fosse capaz de ser respeitado e manter a Itália forte, independente e unida.
Essa obra também é a grande responsável pelo nascimento do adjetivo “Maquiavélico” como algo pejorativo… Motivos pra que muitos considerassem os pensamentos de Maquiavel imorais não faltam, e um bom (e muito famoso) exemplo está no capítulo 17:
Cap. 17: "Da crueldade e da piedade, se é melhor ser amado que temido, ou antes temido que amado".
Segundo as próprias palavras de Maquiavel:
A resposta é de que seria necessário ser uma coisa e outra; mas, como é difícil reuní-las,
em tendo que faltar uma das duas é muito mais seguro ser temido do que amado
No mesmo capítulo, Maquiavel fala que apesar de dever ser temido, um príncipe deve evitar com todas suas forças ser odiado ou desprezado. Para Maquiavel, sobretudo, o princípe deve abster-se de tomar os bens de seus cidadãos. Ele justifica essa afirmativa com outra famosa passagem:
[...] posto que os homens esquecem mais rapidamente a morte do pai do que a perda do patrimônio.
Maquiavel, durante todo o texto, tem consciência de que muitas de suas idéias sobre como governar podem ser consideradas “imorais”, ou contra a opinião sensata… Porém, seu objetivo é dar conselhos aos príncipes sobre como conquistar e manter eficientemente um Estado. Ele não deseja traçar panoramas de como um governo bom “deveria ser”, mas, baseado na História, concentrar princípios de como um bom princípe “age, na realidade”. Para justificar porque é melhor ser temido, Maquiavel diz:
[...] Isso porque dos homens pode-se dizer, geralmente, que são ingratos, volúveis, simuladores,
tementes do perigo, ambiciosos de ganho; e, enquanto lhes fizeres bem, são todos teus,
oferecem-te o próprio sangue, os bens, a vida, os filhos, desde que, como se disse acima, a
necessidade esteja longe de ti; quando esta se avizinha, porém, revoltam-se. E o príncipe que
confiou inteiramente em suas palavras, encontrando-se destituído de outros meios de defesa,
está perdido.
“O Princípe” é um livro com idéias polêmicas, mas que com certeza foi e continua sendo até hoje o livro de cabeceira de muitos homens de Estado. Acima de tudo, é um livro de conselhos práticos mas significado profundo. Só pelo fato de mostrar o contexto histórico da Itália no século XVI, e como estava nascendo naquele momento o Estado moderno, já é um livro ótimo de se ler.
Enfim, fiquei orgulhoso de ter gasto R$5 pra comprá-lo em um sebo aqui de Floripa :)